domingo, 13 de outubro de 2013

Modelo de formação suíço


O sistema brasileiro de educação profissional é muito baseado na aquisição de habilidades e conhecimento no campo do trabalho através dos cursos universitários. Diferentemente de outros países como a Suíça e França, onde curso universitário é visto como profissão acadêmica, todas as outras profissões são consideradas técnicas e por isso são ministradas no nível médio, chamado de cursos profissionalizantes.

O melhor sistema que já vi é o suíço, no qual cada aluno quando termina a escolaridade de base (nove anos) escolhe a ramo acadêmico ou técnico. O acadêmico engloba Ciências Políticas, Medicina, Odontologia, Engenharia Politécnica, História e outras matérias para formação de professores, etc. Para poder cursar uma faculdade, que é gratuita, o aluno precisará fazer o colegial e mais três anos de estudo que o preparará para o curso universitário, que é conhecido como Sistema Terciário A. Neste artigo, vou explicar como o sistema técnico funciona. Aqueles que escolhem a via técnica, com cursos como assistente social, bancários, computação, mecânica, eletrônica, eletricidade, enfermagem, secretariado e qualquer área de escritório, comércio, e outros como padeiro, carpinteiro, pedreiro, cabeleireiro, vão diretamente para o curso técnico de dois a quatro anos. Esse é o Sistema Terciário B da economia suíça.


Antes de escolher a profissão, o aluno é assessorado com testes vocacionais que lhe darão melhor conhecimento da área a ser estudada. O sistema educacional oferece aos estudantes não somente um treinamento específico para a profissão, mas também como criar e manter um negócio, com aulas de contabilidade, gerenciamento, etc., cada um no seu ramo de especialidade. Esses cursos são um perfeito casamento entre teoria e prática. Dependendo do curso, os alunos têm dois dias de aula teórica e três dias de trabalho prático numa empresa, onde se receberá um salário, mas será avaliado em seu desempenho. Uma colega que cursou Empregado de Comércio, estudava dois dias e meio e trabalhava dois dias e meio. Ela me explicou que durante as férias escolares, o aluno trabalha cinco dias por semana. Portanto, a carga horária varia dependendo do curso.

As empresas possuem um responsável pelos aprendizes, um profissional que os ajudará a trilhar o curso profissional. O próprio curso ajuda os alunos a encontrar um emprego (estágio). Aliás, o aluno começa o curso e estágio ao mesmo tempo. Se por acaso ele não tiver escolhido um emprego, não poderá fazer o curso. Mas tudo é regulamentado pelo departamento de educação, por isso, quem verdadeiramente quer estudar sempre terá um estágio. É possível mudar de ramo durante o curso, o que ajuda os alunos a cursarem algo que lhes agrada. Nesse sistema, o profissional é realmente qualificado. Não existe profissional meia boca, se não for bom, não terá um diploma e não poderá trabalhar naquele ramo. Muitos quando formados continuam na mesma empresa onde fizeram o estágio e se, por acaso, quiserem mudar, o próprio departamento educacional ajuda-os a encontrar uma nova colocação.

Preciso também dizer que existe um número bem reduzido de escolas que oferecem cursos profissionalizantes de tempo integral, sem o estágio. Imagino que sejam mais cursados por estrangeiros que querem estudar na Suíça, como o curso de hotelaria e turismo. A maioria dos suíços escolhe o curso técnico, pois muitos podem ganhar tanto quanto um profissional de curso superior. Nesse tipo de educação, onde o curso técnico é enfatizado, a possibilidade de trabalhar na área escolhida traz melhor contentamento. Diferentemente do que acontece no Brasil, onde muitos cursam uma faculdade, mas terminam trabalhando numa área que não tinham escolhido, pois há muito profissional universitário e poucos técnicos habilitados, o universitário acaba podendo desempenhar uma melhor função no Sistema Terciário B.

Em 2009, segundo o escritório federal de estatísticas do governo da Suíça, cerca de 90% dos jovens suíços possuíam um diploma profissional, sendo 68,7% técnico e 22,5% universitário. Já em 2013, de acordo com o site de estatísticas federal (http://www.bfs.admin.ch/bfs/portal/fr/index/themen/15/06/dos/blank/05/04.html), somente cerca de 16% dos jovens suíços possuem diploma universitário. A mão-de-obra suíça é uma das mais bem pagas do mundo, bem acima da alemã, inglesa ou americana. Acabo de ler uma matéria num jornal inglês que a Inglaterra pretende criar um modelo de curso técnico como o suíço.

De acordo com o site Avenir Suisse (http://www.avenir-suisse.ch/fr/1863/lavenir-de-lapprentissage/), o curso técnico com estágio faz parte central do modelo de formação profissional suíço. Ele acentua a formação prática que permite aos alunos, menos avançados academicamente, desenvolver seus talentos. A ligação entre o mercado de trabalho e a escola facilita a transição para o mundo profissional. Este esforço de integração é a base da baixa taxa de desemprego entre os jovens na Suíça. A parte de formação efetuada através do trabalho numa empresa (estágio) é em grande parte auto-financiada (a empresa paga o salário do estagiário), o que aporta ao sistema legitimidade e estabilidade.

Experiência própria 
Agora vou explicar a experiência de meu marido. Ele sempre gostou de carros e motores e por isso, quando terminou o sistema básico de nove anos, foi diretamente para o curso técnico de mecânica. Durante três anos ele estudou e trabalhou numa mecânica. Ao terminar o curso, ele decidiu que gostaria de cursar a faculdade de Engenharia, mas como ele teria que morar num outro cantão (estado) e não tinha dinheiro suficiente para isso, ele continuou trabalhando e fez o colegial à noite, que o preparou para o curso superior. Ele fez um ano da escola politécnica de Lausane (EPFL) e depois mais três anos na Escola Superior de Engenharia de Bienne. Como ele já havia feito mecânica, o estudo superior foi muito mais fácil. Na Suíça não há vestibular, os alunos que escolhem a via acadêmica são assessorados para entrar diretamente na faculdade que escolherem. Normalmente deve-se cursar uma universidade no cantão que se mora. Porém se o curso que escolher não houver naquele cantão, pode-se estudar num outro.

Já minha cunhada fez o curso técnico para funcionário dos correios e continuou com a empresa por quase 25 anos. Depois dos 40, ela decidiu largar os correios e fez um curso técnico de empregado de comércio/indústria, durante três anos, e acabou trabalhando na mesma empresa onde fez seu estágio. Dos suíços que trabalham comigo um ou dois fizeram universidade, todos os outros provém do Sistema Terciário B, ou seja, dos cursos técnicos. Dos que conheço que cursaram faculdade são os médicos, economistas, professores universitários e engenheiros.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito interessante, gostaria que no Brasil tivéssemos essa facilidade tbm!! Vc já está de volta?
Bjs
Tati

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